Este post inaugura a categoria “opinião” aqui no site mapas abertos. Portanto, a ideia é provocar o debate e impactar de alguma forma mais crítica sobre o tema.
Recentemente, o Sr. Prefeito de Porto Alegre…
resolveu ficar sinceramente encantado com as paradas de ônibus modernas de Paris. Em um vídeo de sua autoria, ele expôs seus sentimentos de como seria útil que as paradas tivessem amenidades modernas como tomadas USB para carregar o celular.
Alguns meses depois do episódio, através de parcerias (e por um custo que eu não encontrei divulgado nas mídias), a prefeitura inaugurou uma parada de ônibus moderna, com painel LCD, placas solares e o tão sonhando USB para carregar o celular dos usuários necessitados. O local da parada é o Parque Parcão, no bairro Moinhos de Vento.
Segundo as fontes disponíveis, a prefeitura possui ainda o plano de implantar mais cinco projetos semelhantes nos bairros Cristal, Independência, Boa Vista, etc.
A pergunta que não quer calar…
Mas quantas paradas de ônibus existem em Porto Alegre? Qual é a magnitude do problema relacionado com a falta de infraestrutura básica em um ponto de ônibus, como iluminação, proteção da chuva, informações e segurança?
Bom, para isso eu lancei mão do QGIS e dados provenientes do site datapoa.
O que obtive foi um cadastro de paradas de ônibus: 5765 pontos para ser exato.
Como descobri o número? Simplesmente inspecionei a tabela de atributos do shapefile:
Ou seja, cinco reformas em paradas de ônibus impactam 0,086% do total de 5765 paradas do município de Porto Alegre.
Alguém pode argumentar que a maioria das paradas não são pontos centrais que valham a pena reformas. Mas será que não? E outra: será que pontos mais centrais que os escolhidos não precisam de reformas? sabe-se que terminais de integração da Lomba do Pinheiro, Sarandi, Restinga, etc estão sucateados.
Como foi fácil responder a pergunta acima, para fornecer um pouco mais de insumo ao debate, pergunto:
E quantas paradas por bairro temos em Porto Alegre?
Para responder essa foi preciso realizar uma estatística de zonas, usando um shapefile de bairros como zona e a simples contagem acumulada de paradas como a estatística. Para quem nunca fez no QGIS, consite em uma operação de união de atributos pela localização (Join Attributes By Location). Você irá precisar definir o arquivo alvo e fonte, assim como as estatísticas que deseja unir ao arquivo alvo.
E ao plotar o resultado em um mapa coroplético de intervalos iguais (estilo graduado no QGIS), concluímos o óbvio, mas agora uma obviedade baseada em evidências:
bairros periféricos e o centro histórico possuem a maior quantidade de paradas de ônibus.

Baixe o PDF do mapa completo aqui
O campeão foi o bairro Sarandi, na Zona Norte, com 329 paradas de ônibus. Em segundo lugar, o Centro Histórico, com 256. Terceiro: Lomba do Pinheiro, com 246. Quarto: Rubem Berta, com 238.
Em contraste, o Moinhos de Vento possui 15 paradas de ônibus.
Poderíamos continuar aqui o cruzamento com outras variáveis, como a população do bairro (dando assim uma dimensão de densidade) ou a renda média do bairro (trazendo agora um recorte de classe). Poderíamos ponderar as paradas com base em sua relevância de integração com as linhas. Mas hoje eu paro por aqui.
Evidências e dados existem em abundância. Já a informação, que pode ser entendida como a sistematização e relações entre os dados, é escassa.